Cercado de militares, Guaidó anuncia em vídeo 'fim da usurpação' de Maduro

Ao lado de Leopoldo López, líder opositor chama cidadãos às ruas; governo diz que reprime tentativa de golpe de 'reduzido grupo'

 Publicado em 30 de abril de 2019 às 09h15

 

Líder opositor venezuelano, Juan Guaidó cumprimenta militares em Caracas Foto: Manaure Quintero 30-04-2019 / REUTERS 


 CARACAS — Os venezuelanos amanheceram nesta terça-feira com uma imagem impactante: o anúncio por parte do presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, que em janeiro se proclamou presidente interino da Venezuela, de que "hoje valentes soldados acudiram a nosso chamado". 

Guaidó publicou no início da manhã um vídeo, gravado na base militar de La Carlota, em Caracas, no qual aparece cercado de militares e convida a população venezuelana e os soldados a sair às ruas para participar do que chamou de "fim definitivo da usurpação" de poder de Nicolás Maduro. O governo, que garante não haver mobilização militar além de um "reduzido grupo de traidores", denunciou uma tentativa de golpe de Estado e convocou cidadãos ao Palácio de Miraflores para a defesa do regime.  

"Povo da Venezuela, começou o fim da usurpação. Neste momento, me encontro com as principais unidades militares da nossa Força Armada, dando início à fase final da Operação Liberdade", escreveu o líder opositor em sua conta no Twitter. 

As versões sobre uma tentativa de golpe de Estado são intensas. Em vídeo gravado na base militar de La Carlota, na capital venezuelana, rodeado de militares com a presença do líder do partido Vontade Popular (VP), Leopoldo López, que cumprime regime de prisão domiciliar, Guaidó convocou os venezuelanos a irem aos chamados comitês de ajuda de liberdade. 



 Operação de 'fim definitivo' de governo de Maduro reprime tentativa de golpe


— O 1 de maio de começou hoje, o final definitivo da usurpação começou hoje — declarou Guaidó, em momentos em que muitos venezuelanos ainda dormiam. 

A analista Argelia Ríos afirmou que não se esperava na Venezuela uma ação como esta para esta terça-feira, até porque nunca se definiu exatamente o que era a Operação Liberdade. A sensação, segundo ela, é que Guaidó antecipou em um dia essa operação para criar um "efeito surpresa".  

A deputada opositora Gaby Arellano denunciou que o regime chavista derrubou a internet em todo o país nesta terça-feira. A oposição anunciara a organização de grandes protestos para esta quarta-feira. Interlocutores da oposição disseram ao GLOBO que "está em marcha um golpe de Estado e a fase final da Operação Liberdade". 


No Twitter, Leopoldo López, detido em fevereiro de 2014, afirmou que "começou a fase definitiva para o fim da usurpação, a Operação Liberdade". Ele relatou ter sido solto por militares rebeldes contra Maduro.

''Fui liberado por militares seguindo a ordem da Constituição e do presidente Guaidó. Estou na base de La Carlota. É hora de conquistar a liberdade e a fé", disse López.

Governo diz que reprime tentativa de golpe

Pela mesma rede social, Guaidó reforçou o pedido de mobilização nas ruas até que a Força Armada Nacional e os opositores "consolidassem o fim da usurpação", que, segundo ele, "já é irreversível". O líder opositor destacou que os militares "tomaram a decisão correta" e que gozam de apoio do povo venezuelano e da Constituição do país.

''Estão partindo as forças para conseguir o fim da usurpação", anunciou Guaidó. 

Também pelo Twitter, o ministro do Poder Popular para a Comunicação e a Informação da Venezuela, o chavista Jorge Rodríguez, informou que as forças do governo "estão enfrentando e desativando um reduzido grupo de tropas militares traidoras que se posicionaram no Distribuidor Altamira — local simbólico para a oposição — para promover um golpe de Estado contra a Constituição e a paz da República".

''Convocamos o povo a se manter em alerta máximo para, junto à gloriosa Força Armada Nacional Bolivariana, derrotar a tentativa de golpe e preservar a paz. Venceremos", escreveu Rodríguez, o primeiro representante do chavismo a se pronunciar.
 O ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino López, destacou que os militares permanecem "firmemente em defesa da Constituição nacional e das autoridades legítimas". Segundo ele, todas as unidades militares pelo país "reportam normalidade" em suas bases. Maduro compartilhou as postagens do ministro.

"Nós rechaçamos este movimento golpista que visa a encher o país de violência", destacou Padrino López, que chamou os rebeldes de "covardes". "Os líderes políticos que se colocaram à frente deste movimento subversivo empregaram tropas e policiais com armas de guerra em uma via pública da cidade, para criar terror". 

Número 2 do chavismo, o presidente da Assembleia Nacional Constituinte, controlada pelo governo, Diosdado Cabello reforçou que "não há registro de manifestações em nenhum estabelecimento militar do país". Ele atribuiu a tentativa de golpe a um "minúsculo grupo" da Guarda Nacional Bolivariana e da Sebin, a agência de inteligência venezuelana.  

Desde que se autoproclamou presidente, em 23 de janeiro, Guaidó trabalhou para arregimentar membros das forças militares da Venezuela, principal pilar de sustentação de Maduro no poder em Caracas. Organizou uma operação de ajuda internacional nas fronteiras de Colômbia e Brasil, na esperança de que os soldados deixassem passar as mercadorias e desertassem em apoio à oposição.

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